— No começo da pandemia, ainda fiquei na expectativa de que as coisas melhorariam rapidamente. Achei que conseguiria realizar a festa na quadra da Beija-Flor. Queria fazer um combo de comemorações. Meus 50 anos, os 25 dançando com o Claudinho pela escola, os 45 do Neguinho como intérprete da Beija-Flor, os dez do mestre Rodney à frente da bateria e os 50 do Veloso, nosso diretor da ala dos compositores. Seria um festão, e a quadra ficaria pequena. Não vou mentir, chorei igual a criança. Mas o melhor a se fazer foi adiar para o fim do ano. Porque preservar a vida das pessoas é a nossa prioridade agora.
Impossibilitada de organizar a sua farra, Selminha até cogitou fazer apenas a sua peregrinação por alguns templos religiosos, mas pelo mesmo motivo desistiu.
— Todo ano costumo ir à igreja, ao centro kardecista e ao terreiro. Minha origem é na umbanda e no candomblé. Mas me considero ecumênica. Mas nem às igrejas e ao meu centro eu poderia ir. Depois me convenci em fazer apenas um bolo e uma videoconferência com os amigos. Só que todo mundo sabe que nada é simples para quem é do carnaval. A história foi crescendo e logo entrei em contato com Milton Cunha. Aí o convidei para cantar “Parabéns” pra mim e ele falou: “Deusa da passarela, é claro que eu canto”. Então, essa minha metade do século será com um bate-papo com o meu amigo e meu primeiro carnavalesco da Beija-Flor.
Para dar ainda mais importância à data, Selminha decidiu transformar os presentes em doações de leite em pó:
— Resolvi comunicar aos amigos que eu não queria receber presentes. Estamos passando por um momento muito difícil, então, pedi para o pessoal transformar esse carinho por mim em latas de leites, que serão doadas para o Hospital Estadual da Criança de Vila Valqueire, onde sou voluntária. Eu tô feliz da vida! Já ganhamos mais de 200 latas. Quem quiser ajudar pode entrar em contato comigo através do meu Instagram (@selminhasorriso).
Depoimentos
‘Nos hipnotiza ao defender seu pavilhão’
"Até pouco tempo atrás, a arte das porta-bandeiras tinha duas rainhas: Vilma, o Cisne da Passarela, e Neide da Mangueira. Hoje já podemos dizer que há uma Santíssima Trindade da dança. Selminha Sorriso alcançou o patamar destas divas dos anos 60/70, com uma vantagem para nós: ainda podemos vê-la nos brindando com seu talento na Sapucaí, em altíssimo nível. Ela é hoje, ao lado de Neguinho da Beija-Flor, a maior sambista em atividade no carnaval. Quando gira na Avenida, remexe as estruturas daquele palco sagrado e provoca frisson em quem observa seus movimentos.
Ouço muita gente dizer para Selminha: “Nossa, nem parece que você tem 50 anos”. Pois é hora de revermos nossos conceitos. Essa é a atual mulher de 50 anos: a que está em plena forma física, a que compete de igual para igual com as dançarinas de outras idades, a que trabalha dia após dia com responsabilidade e amor pelo que faz, e aquela que carrega a experiência que só o tempo pode trazer. Selminha é tudo isso e muito mais, porque existe um ingrediente extra chamado “carisma”, que é inexplicável. Quando ele vem junto com um talento arrebatador, o resultado é esse: a dançarina que nos hipnotiza ao defender seu pavilhão. Vida longa para Selminha, a porta-bandeira que faz brotar nossos melhores sorrisos!", comenta o jornalista e jurado do Estandarte de Ouro Leonardo Bruno.
‘Ela está no auge da forma física e da beleza’
“Era preciso, nesta época nossa, que tivéssemos alguém tão importante quanto Neide e Mocinha (ex-porta-bandeiras da Mangueira). A gente precisa de uma grande dama que simboliza a garra das candaces do samba (guerreiras). Selminha carrega toda essa força. O lindo é que ela, aos 50, está no auge da forma física e da beleza. Então, ao lado desta respeitabilidade, ela nos sugere um tom de frescor, sorriso e sedução que é muito bonito.
Nestes anos de Beija-Flor, ela tem se dedicado ao projeto das crianças da agremiação. Isso mostra o seu compromisso e a preocupação em plantar a semente para que a arte do mestre-sala e da porta-bandeira não morra. O que me deixa tranquilo para dizer que ela tem décadas pela frente.”, diz Milton Cunha, carnavalesco e comentarista de carnaval da Rede Globo.
Via: Jornal Extra